quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Universidade e Inovação

A palavra da moda no mundo é inovar.  E, sob um determinado ângulo, conciliar as palavras inovação e universidade pode parecer um contra-senso. Isto porque inovação, entre outros aspectos, demanda a instauração de mecanismos/processos de gerenciamento modernos que permitam rápidas respostas ao mercado e a própria empresa, enquanto que a universidade, uma instituição que esta próxima do seu primeiro milênio, é um espaço em que estes mesmos mecanismos/processos gerenciais visam essencialmente a uma excelência em que aspectos temporais não são restrições. No entanto, um dos aspectos fundamentais de qualquer iniciativa de inovação encontra na universidade sua principal matéria-prima: o conhecimento.

Mas a primeira questão que cabe responder é: o que é inovação? Em resumo, inovação é a exploração bem sucedida de novas idéias. Existem diferentes classificações sobre o que é e quais os processos envolvidos com inovação, mas de especial interesse para este post, destaco a inovação tecnológica: aquilo relacionado a geração e/ou melhoria de produtos e/ou processos de produção. Tais mudanças podem ainda acarretar na chamada inovação de modelo de negócio, ou seja, a forma como este novo produto e/ou processo é posto no mercado.

A relação entre inovação e universidade dá-se em diferentes níveis. A universidade é por natureza uma instituição que tem por atribuição, além da formação de recursos humanos, a produção e disseminação do conhecimento. Não por acaso, as atividades principais de uma universidade estão compreendidas entre os pilares pesquisa, ensino e extensão. Desta forma, a universidade apresenta-se, pelo menos potencialmente, como uma das principais forças motrizes da inovação. No entanto, a universidade por si só não é capaz de prover todos recursos e infra-estrutura necessária para a geração de inovação, partindo do pressuposto de que uma boa idéia, por melhor que seja, não se vende sozinha. É necessário toda uma logística gerencial/administrativa que permita a devida produção e inserção deste novo produto/processo no mercado. Ainda assim, uma série de iniciativas tem por objetivo auxiliar os novos empreendedores, nascidos nos bancos da academia, a trabalhar seus projetos e até mesmo constituir sua empresa. É nesse cenário que conceitos como startups e spin-offs surgem.

A literatura apresenta uma série de diferentes definições para o termo, mas acredito que a mais atual é aquela que diz que uma startup é um grupo de pessoas a procura de um modelo de negócios repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza, baseados especialmente em um produto/processo ou uma carteira de produtos/processos inovadores.  Pode-se dizer que uma spin-off é quando esta empresa e/ou startup nasce dentro de uma universidade, centro de pesquisa ou grupo de pesquisa.

E o que o aluno de um curso de ensino superior, por exemplo engenharia, tem a ver com tudo isso? TUDO.

Enquanto o aluno está trabalhando em um projeto de conclusão, trabalho de disciplina, projeto de iniciação científica, dissertação, tese, ou até mesmo enquanto assiste uma aula chata pra baralho, ali está sendo alimentada uma ideia. Uma ideia que pouco provavelmente vai vir de um estalo, mas que na verdade vem sendo trabalhada por toda a vida acadêmica (e mesmo fora da universidade) até o momento em que ela se materializa.

Contudo, pelo que tenho observado nas atuais turmas de engenharias que venho trabalhando, essa sistemática de partir atrás do seu projeto inverte uma lógica que está na contramão dos grandes empreendimentos: os alunos atuais, pelo menos na sua maioria, buscam sua formação com o objetivo final de se tornarem empregados, e não chefes. Por isso, a idéia de constituir uma startup, spin-off, ou qualquer outra coisa nesse sentido impõe uma série de medos que praticamente a descartam com alternativa.

É da própria definição de startup a coisa de trabalhar sob condições de extrema incerteza. E essa talvez seja a única certeza que se tenha sobre essa universo. Não de graça, existe algo comum em uma parcela considerável de pessoas que resolveram investir nessa idéia: eles não tinham mais qualquer alternativa quando resolveram empreender em seu próprio negócio. Felizmente, o raciocínio não precisa ser esse.

Há uma série de iniciativas e mecanismos que podem ajudar empreendedores a lidarem com estas incertezas, em diferentes instâncias.

Inicialmente, é interessante que se perceba que a inovação e o fomento destes ecossistemas de empreendedorismo é considerado, hoje, estratégico para o país.  Por isso, o governo federal, por meio dos seus ministérios, especialmente de Ciência, Tecnologia e Inovação trabalha com uma série de programas que visa fomentar a inovação no país.

Mais próximo aos estudantes, existem uma série de iniciativas que visam criar condições para que se possa trabalham seus projetos. Um desses ambientes são as incubadoras tecnológicas.

Uma incubadora tecnológica é um ambiente que tem por objetivo permitir a constituição de uma startup e/ou empresa sob determinadas condições de proteção que favoreçam seu nascimento, evolução até sua total graduação como empresa plena. Entre as funções principais de uma incubadora está a assessoria em assuntos relacionados ao gerenciamento, administração e questões jurídicas, bem como também assume o papel na formação complementar desses candidatos a empresários. Segundo o relatório técnico Estudo, Análise e Proposições sobre a Incubadoras de Empresas no Brasil, organizado pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o país conta atualmente com 384 incubadoras, com 2.640 empresas incubadas e 2.509 empresas já graduadas (uma empresa torna-se graduada quando se entende estar apta a viver sem a incubadora). Atualmente as empresas incubadas geram 16.394 postos de trabalho enquanto que as empresas já graduadas geram 290.205 postos de trabalho. O êxito destes empreendimentos pode também ser medido pelo seu faturamento: as empresas incubadas hoje já geraram R$ 533 milhões enquanto que as graduadas geraram um total de R$ 4,1 bilhões em faturamento.

A revista Computação Brasil, da Sociedade Brasileira de Computação, de número 20 traz como matéria de capa uma discussão sobre Startups e Spin-Offs, com uma série de entrevistas e informações para quem quer entender melhor os mecanismos por trás destes empreendimentos.

Por isso, quando você estiver prestes a dormir em uma aula, atente-se: pode estar naquele conhecimento  abordado uma oportunidade de R$ 1 milhão. Ou se preferir, escreva-se no BBB.