quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Steve Jobs e a Universidade

A minha participação no TICast teve por objetivo mais uma reverência a obra de Steve Jobs. Dada as restrições de tempo, nem tudo pode ser dito. Por isso, quero estender esse assunto aqui.

Jobs é um dos pioneiros de uma era de demandas interdisciplinares. Apesar de ficar conhecido por seus produtos inovadores em um domínio baseado na tecnologia digital, esses êxitos só foram possíveis por uma série de habilidades e competências que iam muito além da computação e da engenharia. Essas habilidades e competências foram construídas segunda uma estratégia "curricular" baseada essencialmente em seus interesses. Foi Jobs quem construiu sua história e foi ele quem disse ao mundo como seria melhor aproveitado. Esse, para mim, foi seu grande diferencial.  Isso fica muito claro no vídeo que rodou todos os noticiários, onde discursou para uma turma de formandos da Universidade de Stanford, especialmente na primeira parte: a Apple surgiu no momento em que resolveu "ligar os pontos".



Fica para história todos os seus êxitos. Mas garanto que para cada produto/processo de sucesso que empreendeu, um número bem maior de erros ele cometeu. Por que é assim que os empreendedores trabalham. Errando. E tentando. E errando. Até que em algum momento a coisa acontece.

Mas quero voltar ao que chamei de demandas interdisciplinares. A partir de um determinado momento da história, o conhecimento se segmentou, segundo uma abordagem modular. A especialização em um determinado assunto vai até um ponto em que este assunto se destaca das suas origens, e ganha vida própria. No início, tudo era Ciência. Em algum momento, Ciência se fragmentou em Matemática, Linguagem, Ciências da Vida. E hoje, estes assuntos se dividiram numa miríade de especializações a ponto de as pessoas que tratam com uma especialização muito específica cega-se do contexto em que esta está inserida. A maior caricatura contemporânea dessa realidade é o personagem Sheldon da série The Big Bang Theory, que entende que qualquer coisa além da física teórica é uma deturpação de um glamour científico que explica tudo no universo. E é por não perceber essa realidade, é que alguns puristas não entendem por que Steve Jobs é mais celebrado do que Dennis Ritchie, por exemplo, que morreram na mesma época. O que se pode dizer é que Dennis Ritchie é para computação o que Steve Jobs é para o mundo.

Steve Jobs não se restringiu a um único domínio, mas trabalhou na interface entre vários domínios: computação, administração, marketing, design. Se você procurar uma universidade no mundo que trate estas coisas em conjunto, você não vai encontrar. Simplesmente por que, pra fazer a diferença você deve pensar diferente (Think Different). E para pensar diferente você deve ser responsável por aquilo que quer ser e, por conseqüência, aprender.

O que Steve Jobs entendeu, e que poucos entendem, é que a vida não tem gabaritos, e o sucesso não está escrito em algum lugar. Para isso, devemos construir as perguntas, encontrar as respostas, mesmo que para isso se erre um sem número de vezes.

P.S.: A propósito, o autor do livro que comentamos no podcast é Leander Kahney